domingo, 8 de novembro de 2009

No escuro

No escuro dos dias permanecia ali deitado em um cubículo aquele velho solitário.

Não lembrava mais como era o verde das copas das árvores nem a relva do espaço em que lhe cercava. Seus instintos quase haviam desaparecido por completo, nem o tato ou olfato a qual lhe fora intensamente ampliado lhe restava.


Ás vezes no seu mundo sombrio ainda tinha alguns momentos de sensibilidade: algumas horas de algumas manhãs sentia em seu corpo inerte, dependendo da época do ano, ora uma brisa gélida ora um caloroso afago do sol em seu dorso. Mas nos últimos tempos nem isso mais o fazia se sentir vivo.


“Aguente firme seu velho inútil! Tente demostrar que está tudo bem! Não vai dar trabalho nem tristezas para as pessoas a sua volta”. Pensava ele em seus momentos de fraqueza.
Alguns minutos de cuidados semanais era doado por quem se dizia importar-se com o velho, nada mais.

Isso era suficiente para manter vivo aquele cego cão idoso . Também era o bastante para que ela pudesse dormir sem peso na consciência.


E foi assim que seguiu a vida deste animal, preso em um canil, isolado, muitas vezes deitado sobre suas próprias fezes, esperando com esperança o dia de seu fim.


(por Michelle Schons)

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